terça-feira, 21 de abril de 2009

Número de assassinatos dispara no interior e litoral do Paraná



Homicídios dolosos crescem 48,46% na região de Londrina e 47% em Paranaguá e arredores, de acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública. 

O tráfico de drogas e a falta de rigor para coibir a criminalidade fazem os homicídios aumentarem no interior do estado em uma proporção galopante em relação à região metropolitana de Curitiba. Entre 2007 e 2008, os assassinatos cresceram 48,46% na região de Londrina e 47% no entorno de Paranaguá, enquanto na capital a evolução foi de 9% e em São José dos Pinhais 17,6%. Os dados estão no Mapa do Crime, da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).

As causas dos homicídios dolosos (aqueles com intenção de matar) no interior não são diferentes das que originam os assassinatos nas metrópoles. A maioria das mortes é motivada por brigas de quadrilhas, queima de arquivo e desavenças entre usuários de drogas e traficantes. Ocorrências e crimes desse tipo levam o interior, aos poucos, a perder a sensação de tranquilidade, há tempos distante das cidades grandes. 

Para especialistas, os bolsões de pobreza que se espalham pelas cidades e a falta de vontade política, aliada à má gestão dos governos e da Justiça para evitar o envolvimento dos jovens no crime e punir severamente os responsáveis, são fatores que pesam na balança da violência e desencadeiam as mortes.

O professor de Filosofia e Ética Walmir Ruis Salinas, da Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam), diz que o cerne do problema está na falta de comprometimento das autoridades em resolver a criminalidade. A violência está presente hoje até mesmo em Campo Mourão, uma cidade de 80 mil habitantes onde existe um local, em pleno centro da cidade apelidado de ‘Faixa de Gaza’ por ter histórico de mortes e baderna. Na região, os homicídios dolosos aumentaram 24% entre 2007 e 2008, ou seja, passaram de 75 para 93.

Impunidade

“Quem comete um crime, faz por estar seguro”, diz Salinas. “Não percebo uma junção entre os três poderes para encontrar uma solução.” Para o professor, o governo gasta pouco e mal no setor de segurança. Ainda segundo ele, o poder público precisa investir mais na família, em educação e em oportunidades aos jovens. Salinas também acredita que o estado dispõe de estrutura suficiente para minimizar a situação. Abrir escolas públicas nos fins de semana para práticas esportivas e culturais já seria uma forma de dar oportunidades aos jovens, na opinião do professor. “Basta ter atitude e boa vontade”, afirma. “É cômodo ficar na balela de que a droga é a causa. A droga é a parte visível. O estado de direito poderia copiar a eficiência do estado paralelo.”
Para as autoridades policiais, é visível a relação entre o tráfico e os assassinatos no interior, embora seja difícil detectar com precisão fatores que fazem com que as mortes aumentem em um curto espaço de tempo, como é o caso da região metropolitana de Londrina, onde ocorreram 242 homicídios no ano passado contra 163 no ano anterior.

O delegado-chefe da 10ª Subdivisão Policial, Sérgio Barroso, diz que não há explicação científica para o aumento das mortes em Londrina, mas a repressão ao tráfico por parte da polícia pode ter estimulado a briga entre quadrilhas pelos pontos de droga. “Quando você aumentar a repressão ao tráfico pode aumentar o acerto de contas entre traficantes”, diz.

Professor na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e coordenador do Gabinete de Gestão Integrada de Segurança do município, Pedro Marcondes também vê nas drogas um dos principais motivos para o aumento no número de homicídios dolosos na cidade, o que potencializa a violência. “Seja porque o uso de drogas desinibe as pessoas, ou porque há dívidas com o tráfico ou então porque há brigas por pontos de tráfico. As drogas são hoje um dos grandes fatores desencadeantes da criminalidade e da violência”, ressaltou Marcondes.

Na opinião dele, a solução para a criminalidade está no investimento de políticas públicas que valorizem a saúde. “Temos que mostrar que a droga não é uma boa opção. Por outro lado, é necessário um tratamento enérgico da polícia contra traficantes”, observa. As políticas públicas devem se preocupar ainda, de acordo com Marcondes, em evitar que o jovem e adolescente fiquem vulneráveis às drogas.

Para Sesp, prisão de traficantes motiva mortes

A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) diz que em 2008 houve um aumento de prisões de traficantes, o que acabou resultando em mortes por acertos de conta, de acordo com a Subdivisão da Polícia Civil de Londrina e Rolândia. Apesar do aumento em relação a 2007, a Sesp diz que já se percebe uma queda ao longo do ano de 2008. No primeiro trimestre de 2008 foram registrados 74 homicídios dolosos, e este número foi caindo para 58, 57 e 53 respectivamente ao longo dos trimestres, de acordo com a secretaria.

De acordo com a secretaria, o resultado se deve aos trabalhos de prevenção feitos pela Polícia Militar – incluindo operações para apreender armas –, após a percepção do aumento. Também se deve à elucidação dos crimes. Em Londrina, segundo a Sesp, 64% dos homicídios dolosos foram solucionados em 2008 e de acordo com a subdivisão, foram presas 71 pessoas por homicídio.

Informe Policial


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