A
chefe da Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC) e secretária
Executiva do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do
Paraná, Rosina Coeli Alice Parchen, aponta que há a possibilidade de
reconstrução da Estação Ferroviária de Joaquim Távora, que na última
terça-feira,dia cinco, foi totalmente destruída por um incêndio que
atingiu a edificação.
Tombada pelo Patrimônio Histórico,
Cultural e Ambiental do Paraná em 10 de outubro de 2000, a estação
Affonso Camargo aguardava processo de restauração, mas trabalhos nem
foram iniciados. Com a destruição da Estação, órgãos ligados ao
Patrimônio Histórico do Paraná e o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) deverão discutir sobre o caso.
Parchen
explica que a ciência da restauração é amparada em princípios
internacionais. “As cartas internacionais sobre a preservação do
Patrimônio Cultural não recomendam a reconstrução, pois o objetivo é a
preservação e portanto a garantia do original ou a restauração que busca
a recuperação daquilo que se perde ou se altera ao longo do tempo”. A
chefe da CPC pontua, entretanto, que “Num caso excepcional como este, em
que há a perda total do objeto cultural, não há definição sobre as
ações a serem adotadas. Por isso, nós, os que cuidamos do Patrimônio
Cultural, SEEC e IPHAN deveremos discutir e fazer as considerações sobre
como intervir e, pela excepcionalidade da ocorrência, a reconstrução
poderá vir a ser a solução”.
Ela acentua que a possibilidade
de reconstrução é ampliada pelo levantamento arquitetônico, mapeamento
dos danos e pelo projeto de restauro que estava pronto para ser
executado. “Havia um projeto muito bem elaborado para a restauração”.
Parchen
informa que a Secretaria, também por orientação do procurador da
República Gustavo de Carvalho Guadanhin, quem acompanha o caso na
Justiça, aguarda laudos técnicos da Polícia para levantar as causas do
incêndio e saber por que obras de restauração ainda não haviam sido
iniciadas.
O professor-doutor Maurício de Aquino, do
Colegiado de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná
(UENP), lamenta a destruição da Estação por seu capital simbólico, por
sua relevância cultural e por seu caráter singular na preservação da
memória local.
“Os bens histórico-culturais oferecem condição
de vincular os homens e as mulheres do presente às experiências de
homens e de mulheres de outra época. Eles representam (apresentam o
passado ausente) um momento histórico da experiência social. Na
linguagem da filosofia existencialista, nós não nascemos humanos,
tornamo-nos humanos, e esse tornar-se humano envolve nossa conexão com
as experiências das gerações que nos precederam. A qualidade dessa
conexão repercute na construção de nossa identidade e na maneira como
entendemos a vida em sociedade”.
Refletindo sobre a
possibilidade de reconstrução da Estação, o professor lembra do caso de
São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, que
teve parcialmente destruído, em janeiro de 2010, o centro histórico com
prédios do século XVIII . “O fato teve repercussão internacional. Os
Governos Estadual e Federal se articularam, mas foi aí que surgiu o
problema: é adequado e coerente (re)construir o passado, novinho em
folha, pelos homens e mulheres do presente, com a finalidade de
preservação do patrimônio histórico? E, reconstruir não é incoerente
diante da noção de preservação do patrimônio? Ou preserva-se apenas a
memória? Mas, a memória não estaria atrelada necessariamente a um rastro
material do passado sendo que a reconstrução resultaria em algo
historicamente inautêntico?”
Mesmo diante de tais
questionamentos, o professor pondera que eles não podem obstaculizar a
necessária produção de um projeto de recuperação e valorização desse
patrimônio histórico-cultural do Norte Pioneiro do Paraná envolvendo
órgãos públicos e sociedade civil.
Maurício aponta que
enquanto monumento-emblema da cidade de Joaquim Távora, e mesmo de toda a
região, essa Estação deve e merece ser recuperada. “O patrimônio é um
rastro material do passado fincado em nosso presente para nos fazer
reconhecer nossa finitude e a dinâmica imposta pela natureza e pela vida
social a todos nós. Tais perdas estão também no viés psicológico,
afetivo, sentidas, sobretudo, pelas pessoas que experimentaram aquela
Estação no percurso do tempo.”
É o que notou a estudante do
curso de História da UENP, Tatiane Aparecida Fogaça Rodrigues, que
comenta que houve muita comoção por parte da população pela perda do
patrimônio. “No momento do fato, acompanhei, dentre muitos, um olhar
entristecido pela lembrança do que foi e já não era mais. O prédio da
antiga Estação ainda significa, principalmente para os mais idosos,
espaço para memórias e saudades. Muitos partilharam comigo passagens de
suas vidas, momentos de suas histórias, vividos ali”. A acadêmica é
moradora de Joaquim Távora e desenvolve pesquisa sobre a Estação,
orientada pelo professor-doutorando Jean Carlos Moreno.
A
estação de Joaquim Távora foi construída no início dos anos de 1920 e
tombada em 2000, ano em que se comemorava os 500 anos do "descobrimento
do Brasil". Nesse clima de festividade histórica, explica o professor
Maurício, a Coordenação de Patrimônio Cultural do Estado do Paraná
realizou o tombamento não apenas da Estação de Joaquim Távora, mas
também das estações de Santo Antônio da Platina, Jacarezinho e Marques
dos Reis. Essas quatro estações ferroviárias somadas às pinturas murais
da Catedral de Jacarezinho e à Ponte Pênsil de Ribeirão Claro formam os
seis bens tombados da região do Norte Pioneiro do Paraná.
O
Ministério Público Federal em Jacarezinho, a América Latina Logística
(ALL), a Secretaria de Estado da Cultura do Paraná e o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) assinaram, em maio de
2011, na sede da Justiça Federal (Subseção Jacarezinho), um Termo de
Ajustamento de Conduta em que a ALL se comprometia a restaurar seis
estações ferroviárias em cinco municípios na região (além das estações
tombadas, as de Andirá e Bandeirantes). A restauração já teve início em
algumas dessas estações.npdiario
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