A escassez de predadores naturais de uma espécie de aranha e a
abundância de alimento para estes animais estão provocando um fenômeno
curioso flagrado em uma propriedade rural localizada em Santo Antônio da
Platina, no Norte Pioneiro do Paraná. Vivendo em árvores de médio
porte, milhares de aranhas da espécie Anelosimus eximius, conhecidas
também como tecedeira-sombria, construíram uma rede de teias entre cabos
e postes de energia para capturar suas presas, normalmente insetos de
médio porte. O tamanho da teia e número de aranhas impressionam e também
assustam.
O flagrante do fenômeno foi feito pelo design de
fotografias Érick Reis, 20 anos, que no último domingo, 3, registrava um
casamento em uma chácara no interior de Santo Antônio da Platina. Reis
percebeu a presença das aranhas e gravou um vídeo de quatro minutos que
virou febre na internet nas últimas 48 horas. Até o final da tarde de
ontem já eram mais de 15 mil visualizações. Batizado de “chuva de
aranhas” o vídeo transformou Érick quase em uma celebridade ao passar o
dia dando entrevistas para jornais e sites. “Eu nunca vi nada parecido.
Quando percebi estava embaixo de uma chuva fina gravando aquela cena”,
conta.
A reportagem esteve nesta sexta-feira,dia oito, no
local e encontrou as aranhas protegidas entre as árvores. O local fica à
margem de uma estreita estrada rural e há poucos moradores por perto.
Apesar
de estranho, o fenômeno não é tão incomum assim. O professores de
biologia da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Luiz Carlos
de Pontes Silva, explica que esses animais estão encontrando o ambiente
perfeito para se reproduzir e desenvolver sem predadores naturais, como
pequenas aves e morcegos. O especialista conta que realizou no ano
passado um estudo na região em que percebeu o aumento da população de
aranhas por conta do desaparecimento de árvores frutíferas que deram
lugar a pastagens. Essas árvores eram abrigo de morcegos, principais
predadores das aranhas.
Pontes Silva explica que normalmente
são as fêmeas que tecem as teias, muito resistentes e semelhantes aos
fios de seda. No entanto, essa época do ano é o período de reprodução
deste tipo de aranha e os machos começam a tecer também suas teias para
impressionar as fêmeas aumentando a área ocupada com os fios. A
competição acaba formando um emaranhado de fios que se estendem por
postes, fios de energia elétrica e árvores cobrindo dezenas de metros
quadrados. No final da tarde os animais deixam as frestas das árvores e
entre as folhas para capturar os insetos presos nas teias.
O
biólogo também alerta que não é bom ficar perto destes animais. A picada
dessas aranhas pode causar irritação e desconforto em adultos
saudáveis, mas em crianças com menos de quatro anos, o veneno do
aracnídeo pode provocar complicações e até choque anafilático. Apesar
disso, esses animais não são considerados agressivos.
O
agricultor Renato Teodoro Corsini já foi picado pela espécie, assim como
seu filho. Ele revela que a criança, um menino de quatro anos teve que
receber atendimento médico e mesmo assim sofreu por dias com espasmos e
convulsões. “Tenho percebido a presença dessas aranhas em vários locais,
principalmente perto de pastagens”, diz.
De acordo com a
Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antônio da Platina não há
registro recentes de acidentes com aranhas da espécie tecedeira-sombria.
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